segunda-feira, 3 de outubro de 2011

"Orlândia está estrangulada", alerta Golfeto no Fórum de Desenvolvimento Econômico



Flávia Gomes faz abertura do Fórum de Desenvolvimento
O economista Antonio Vicente Golfeto aponta o empreendedorismo como chave para o desenvolvimento. A afirmação foi feita durante o Fórum de Desenvolvimento Econômico e Social da Alta Mogiana, realizado dia 29 em São Joaquim da Barra. Promovido pela Fremaprev (Frente Parlamentar Mista de Defesa de Desenvolvimento Econômico e Valorização do Trabalho) e Associações Comercias, Industriais e Empresarias, o Fórum tem apoio da Faculdade de Orlândia – FAO – e do jornal A Voz.

Golfeto apresentou uma série de dados econômicos sobre a região. Morro Agudo é cidade mais promissora, ao menos em princípio. “É preciso ver analisar com mais atenção especial”, alertou. Sede de duas das mais importantes usinas de açúcar e álcool da região, a cidade tem mostrado crescimento em todos os quesitos pesquisados.

Orlândia é o município que apresenta a maior concentração de dinheiro (depósitos à vista, a prazo e poupança), mas tem perdido no repasse de verbas dos governos federal e estadual. Numa série histórica, entre 1982 e 2010, o Índice de Participação dos Municípios no ICMS caiu 28,7%, enquanto Nupuranga teve crescimento de 143,4%. Mesmo entre 2009 e 2010, a queda foi de 7%. Orlândia é o único município que registrou decréscimo nos índices.
Fórum reuniu cerca de 200 pessoas em São Joaquim da Barra
“Orlândia está estrangulada e precisa de atenção”, alertou Golfeto. Segundo ele, o município estava entre os que mais cresciam no Estado na década de 1980. “É preciso analisar do ponto de vista histórico. A quebra da Comove foi muito sentida”, disse. A Comove foi uma das maiores esmagadoras de soja e produtoras de óleos vegetais do país, que pediu concordata em 1990, não se recuperou. A empresa, hoje, pertence ao grupo Sina.

A região, afirma o economista, precisa inovar para atrair investimentos e também para promover seu capital interno como empreendedor. Investimento externo é importante, pois apenas duas cidades da região devem seu desenvolvimento econômico basicamente ao empreendedores locais: Sertãozinho e Monte Alto. “O gatilho desenvolvimentista de Sertãozinho foi o desemprego”, afirma.

Golfeto diversos ex-empregados investiam o dinheiro das indenizações em novas empresas e, rapidamente, até superavam os antigos patrões. Segundo o economista, o mercado precisa reconhecer os bons profissionais e as boas empresas. “Hoje em dia, conseguir dinheiro para financiamento é fácil. Mas uma boa ideia, um bom projeto, é difícil”.

Ele cita a empresária Luiza Helena Trajano, presidente do Magazine Luiza, como a maior empreendedora da região – e uma das maiores do país. “Ela tem algo importante no mundo dos negócios: intuição”, disse. Mas não fica nisso, claro. A contratação de uma equipe de assessoria em diversas áreas é fundamental para o crescimento de qualquer negócio. “O empresário precisa reconhece que, a partir de certo ponto, não consegue mais sozinho. Se persistir, pode quebrar”, ensina.

Golfeto lembrou que os investimentos produtivos não precisa de ponto – princípio básico, por exemplo, para um comércio. “A logística é importante para quem vai produzir e tem de escoar essa produção, bem como terra, segurança”, enumerou.

Prefeita Maria Helena e Flávia Gomes
Números da região
Maior cidade da região em número de habitantes – 49 mil –, São Joaquim da Barra apresentou crescimento mais expressivo no repasse de recursos provenientes do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias), com variação de 36,9% entre 2009 e 2011 (janeiro a agosto).

Até o mês passado, o município havia recebido R$ 13,9 milhões desses recursos estaduais. Nuporanga ficou em segundo lugar, com 35,8% - atingindo R$ 5,3 milhões no período. É o município com maior repasse per capita – R$ 783 por habitante. O valor equivale a mais de 2,5 vezes o repassado a Orlândia, que chega a R$ 297.

Com 25,9% de crescimento entre 2010 e 2011, Sales Oliveira acumula, em oitos meses, R$ 3,5 milhões em repasses. Morro Agudo, com crescimento de 20,1%, o município teve seus recursos ampliados de R$ 14,1 milhões para R$ 17 milhões em um ano. Orlândia teve crescimento de 12,1%, com saldo até agosto de R$ 11,8 milhões.

São Joaquim da Barra é dona da maior frota de veículos – 26.988, segundo dados do Denatran referentes a junho deste ano. Em relação ao mesmo período do ano passado, houve aumento de 5,9%. Morro Agudo foi que apresentou maior crescimento – 11%, saltando de 11.159 para 12.320 no mesmo período.

O crescimento da frota foi praticamente igual entre todas as outras cidades, ficam em torno de 7%: Nuporanga saiu de 2.650 para 2.840 veículos – aumento de 7%; Orlândia tinha 24.182 veículos em 2010 e passou para 25.769 neste ano, com crescimento de 6,5%, enquanto Sales Oliveira apresentou acréscimo de 7,5%, de 4.552 para 4.877 veículos.

Outro número interessante é o dinheiro disponível nos bancos da região. Segundo o Banco Central, em junho, as agências de Orlândia respondiam por mais da metade dos recursos guardados na região: R$ 459,4 milhões, enquanto os outros municípios possuem, juntos, R$ 890,9 milhões. Os recursos reúnem depósitos à vista privados e do governo, poupança e depósitos a prazo (aplicações financeiras).

São Joaquim da Barra fica em segundo lugar no ranking, com R$ 248,5 milhões. Os 85 municípios da região de Ribeirão Preto possuem, em suas agências, R$ 21 bilhões. Neste ponto, Orlândia ganha de todas as cidades, com crescimento de 20,4% no período de um ano, enquanto o Estado registrou aumento de 8,1%.

Flávia e o vice-prefeito Marcelo Mian
“Soluções integradas”
A coordenadora regional da Fremaprev e vice-prefeita de Orlândia, Flávia Gomes, se diz satisfeita com os rumos do Fórum de Desenvolvimento. “Queremos estimular as pessoas a reverem seus conceitos e buscarem novas formas de mudar a realidade que, mostram os números, são bem diferentes para cada cidade”, afirma. Apesar disso, o debate regional sobre problemas comuns e soluções integradas pode fazer a diferença para a população.

O diretor da Faculdade de Orlândia, Ericson Dias Mello, considera o Fórum de grande importância para a região. “A grande questão colocada é como podemos fazer o desenvolvimento econômico e social de toda a região de forma integrada”, afirma. Ele anunciou o próximo Fórum para o dia 27 de outubro, em Morro Agudo. 

“Temos que parabenizar essa iniciativa por ser uma oportunidade de discutir os problemas sociais e econômicos que temos na nossa região”, disse o superintendente administrativo da Santa Casa de São Joaquim, João Alberto Destro.

“Fico feliz que esteja acontecendo em nosso município esta discussão em torno do desenvolvimento econômico e social”, disse a prefeita de São Joaquim da Barra, Maria Helena Borges Vannuchi. Ela considera sua cidade “muito promissora e com muitas oportunidades”, mas vê necessidade de pessoas dispostas a investir. “É muito importante a troca de experiências e a discussão em torno dos desafios e soluções”, afirma.

O diretor do jornal A Voz, Josué de Carlos, acredita que o Fórum é uma oportunidade única para a região pensar à frente. “O que podemos pôr em prática hoje para sermos grandes no futuro?”, indaga. Ele relaciona a região com a imprensa, que precisou reinventar-se ante as mudanças surgidas nos últimos anos, como a internet. “Precisamos renovar nosso pensamento e inovar nas ações para fazer frente à disputa acirrada por recursos que garantam o desenvolvimento da Alta Mogiana.”

Participaram do Fórum o vice-prefeito de São Joaquim da Barra, Marcelo Mian, o vereador Pedro Nardelli, a vereadora Maria Aparecida Seabra de Souza, o vereador de Orlândia, Edson Rodrigues Vieira, o vereador de Morro Agudo, Flávio Bueno de Camargo, além de empresários, comerciantes e estudantes dos cursos de Administração e Secretariado da ETEC Pedro Badran.
Público atento à palestra do economista Golfeto

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