Orlândia Viva
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terça-feira, 22 de novembro de 2011
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Fórum de Desenvolvimento propõe soluções para problemas regionais
Murilo Guilherme, Flávia Gomes, Gilberto Barbeti e Luiz Eduardo Lacerda: estímulo ao debate e à busca de soluções para a Alta Mogiana |
Diversificação
econômica, atitude empreendedora, favorecimento fiscal, qualificação de
mão-de-obra, criatividade são algumas dos desafios para o desenvolvimento da região.
Esta é a conclusão a quem chega o Fórum de Desenvolvimento Econômico e Social
da Alta Mogiana, que realizou sua terceira rodada de debates em Morro Agudo,
quinta-feira, dia 27. Mais de duzentas pessoas estiveram no auditório da escola
Regina Célia Guarnieri, que assistiram atentas às palestras, que apontaram a
necessidade de planejamento e busca de oportunidades como forma de gerar renda,
postos de trabalho e qualidade de vida.
O
debate reuniu consultores da região, sob mediação do diretor da Faculdade de
Orlândia (FAO), Luiz Eduardo Lacerda dos Santos. Os palestrantes foram o
consultor e professor da FAO, Adalberto Andrade, o assessor de Governo da
Prefeitura de Morro Agudo, Mário Brunhara, o empresário Carlos Theodoro
Marques, e o consultor e empresário Dorival Polimeno Sobrinho.
Flávia Gomes: diversificação da economia |
A
vice-prefeita de Orlândia, Flávia Gomes, idealizadora do Fórum e coordenadora
regional da Fremaprev, afirmou, na abertura, que a regionalização do debate é importante
para a busca de soluções de problemas comuns às cidades da região – Orlândia,
Morro Agudo, São Joaquim da Barra, Sales Oliveira e Nuporanga. “O Fórum quer
estimular o nascimento de um debate fomentado não somente pela necessidade, mas
também pela vontade política e capacidade de nossa sociedade em transformar os
problemas em oportunidades”, disse Flávia.
“Para
além dessa riqueza que representa a cana-de-açúcar e toda sua complexa
estrutura, a região busca seu desenvolvimento mais amplo – tanto na área econômica
quanto na social”. Para a vice-prefeita, é imperativo desenvolver uma visão de
mundo mais ampla, discutindo problemas que afetam as cidades indistintamente e
também soluções que possam ser implantadas.
Fortalecimento
O
prefeito de Morro Agudo, Gilberto Barbeti, também defendeu um projeto regional
de desenvolvimento. “Não se pode pensar a cidade sozinha, isoladamente”. Ele
lembrou que, na iniciativa privada, diversos setores têm encontrado na união
seu fortalecimento. “O Fórum tem tudo para trazer uma visão inovadora para a
região, e apoiamos totalmente esta iniciativa”, disse. “Devemos nos organizar,
como classe pensante, para criarmos condições de nossas cidades absorverem os
jovens que hoje buscam trabalho”.
“O
Fórum representa uma nova visão para o empresário, que pode se modernizar a
partir essas ideias”, disse o presidente da Associação Comercial e Industrial
de Morro Agudo (Acima), Murilo Guilherme. Segundo ele, o comércio da cidade
passou por grandes transformações nos últimos anos, com investimento em
diversos setores. “Mas ainda é possível crescer mais”.
Atitude empreendedora pode fazer diferença no desenvolvimento, apontam palestrantes
Carlos Theodoro Marques, Murilo Guilherme, Flávia Gomes, Gilberto Barbeti e Luiz Eduardo Lacerda |
Os palestrantes
do Fórum de Desenvolvimento Econômico e Social acreditam que empresários,
políticos, educadores e a sociedade de modo geral devem ter novas atitudes
diante de desafios como falta de mão-de-obra qualificada, monocultura da
cana-de-açúcar e concentração da terra nas mãos de poucos proprietários. Realizado
pela Fremaprev (Frente Parlamentar Mista de Defesa de
Desenvolvimento Econômico e Valorização do Trabalho), o evento teve apoio da
Faculdade de Orlândia (FAO), Prefeitura Municipal de Morro Agudo e Associação
Comercial e Industrial de Morro Agudo (Acima).
“Estamos
vivendo um momento de transição na atividade econômica”, disse o professor
Mário Brunhara, assessor de Governo da Prefeitura de Morro Agudo. Maior
produtor de cana-de-açúcar do país (113 mil hectares plantados), o município
estaria deixando um ciclo de geração de riqueza e renda a partir do setor
sucroalcooleiro, que ainda tem o maior peso na economia. Essa mudança seria
gerada pela entrada da multinacional Louis Dreyfus Commodities (LDC) na
economia, após a compra das usinas Vale do Rosário e MB, formando a LDC-Sev.
“Se
antes essas empresas eram familiares, hoje têm dirigentes, não donos”, disse
Brunhara. Inegável seria a vocação eminentemente agrícola de Morro Agudo,
caracterizada por grandes propriedades rurais (das 684 fazendas, 68 têm mais de
500 hectares, ocupando 48% da área rural total). O potencial de consumo
representado pelas regiões de Ribeirão Preto, Franca, São José do Rio Preto e Triângulo
Mineiro seriam uma das riquezas “desprezadas”.
A
monocultura da cana-de-açúcar e a alta concentração de terras nas mãos de
grandes proprietários, porém, seriam pontos negativos a serem superados. “No
próximo ano, teremos todo o esgoto tratado, o que será importante como fator desenvolvimentista”,
anunciou. Para Brunhara, a criatividade é preponderante para alcançar o
desenvolvimento. “Temos grandes desafios pela frente, e somente uma mudança de
comportamento pode garantir o crescimento”, disse.
Luiz Eduardo (centro) fala na abertura do Fórum, com os palestrantes Adalberto Andrade, Dorival Polimeno, Mário Brunhara e Carlos Theodoro Marques |
“Novo pensamento”
O
consultor Adalberto Andrade, da Cash Consultores, defendeu uma nova postura da
sociedade diante de problemas e oportunidades existentes na região. Segundo
ele, a economia brasileira está em crescimento e há uma aliança regional em
curso (promovida pelo Fórum). “Ganha quem começar primeiro”, afirmou. Na sua
opinião, os jovens, de modo geral, não são ensinados a serem “empresários”. “A
maioria é incentivada a ter profissões com carteira assinada, a ter um emprego,
simplesmente”, disse.
É
preciso, entretanto, atenção a fatores que exigem cada vez mais dos futuros
empreendedores. “Atualmente, vemos uma redução no poder aquisitivo do
consumidor, que leva à queda generalizada nas vendas e ao endividamento da
população”, disse Andrade. Ele é um dos defensores, inclusive, de uma nova
metodologia para medição da inflação, que seria de 22% na região em 2010 (bem
acima dos 5,91% registrados pelo IPCA).
Um
novo pensamento é exigido dos agentes intrinsecamente ligados ao
desenvolvimento. O consultor acredita que as escolas precisam voltar-se e para
a preparação dos alunos como empreendedores e qualificá-los de acordo com as
necessidades locais. “Não adianta proporcionar educação técnica se não estiver
inserida na realidade da cidade”, adverte.
Às
prefeituras, cabe a criação de uma legislação favorável à geração de emprego,
além da criação e fortalecimento das secretarias de desenvolvimento. “As
secretarias devem ser mais agressivas, com poder de negociação e decisão, além
de uma legislação mais flexível”, exorta. Os empresários, por sua vez, devem
investir, principalmente, em criatividade e planejamento.
Apreensão do comércio
Ex-diretor
da Carol (Cooperativa dos Agricultores da Região de Orlândia), o engenheiro e
empresário Carlos Theodoro Marques afirma que a região, notadamente Morro Agudo,
precisa reduzir sua dependência da cana-de-açúcar. “Já mudou muito, mas o comerciante
ainda fica apreensivo com a aproximação do final da safra”. “Nossa vocação é
agrícola, mas essa dependência deve ser reduzida a partir da diversificação”,
disse.
Outro
entrave ao desenvolvimento econômico é a falta de tradição associativista ao
município. “As instituições têm o peso de suas lideranças, o que é insuficiente
para a mudança necessária. Cada um precisa dedicar seu tempo e seu conhecimento
para superarmos os desafios”. A falta de liderança, afirmou, foi responsável
pela transferência, anos atrás, da fabricante de máquinas agrícolas Penha para
Ribeirão Preto.
A
criação de novos negócios também foi apontada como fator importante para a
economia local, mas a falta de apoio institucional leva muitos a desaparecerem
tão rapidamente quanto surgem. “Aponta-se a falta de mão-de-obra qualificada,
mas chegamos a um círculo vicioso: não há qualificação por não haver emprego, e
não há emprego por que não temos mão-de-obra qualificada”, disse. Marques
acredita, porém, que somente o incremento de programas educacionais poderá contribuir
para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.
Investir em talentos
Consultor
de empreendedorismo, o palestrante Dorival Polimeno Sobrinho, diretoor da
2N1V
– Inteligência e Comunicação, acredita que os empresários têm papel fundamental
na qualificação da mão-de-obra. “È muito melhor a empresa investir no seu
colaborador e desenvolver os talentos internos”, disse.
“É
preciso definir um investimento necessário para sustentabilidade das empresas
locais, bem como para atração e retenção de talentos”, explica. Fatores que reduzem a
competitividade do Brasil, como a mão-de-obra desqualificada e o pequeno número
de empreendedores formados, precisam ser reavaliados. “A mudança no
comportamento do consumidor provocou uma mudança também na produção. Agora,
devemos modernizar a mão-de-obra com educação empreendedora”, disse.
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Por que roubam os comunistas?
Che Guerava por Andy Warhol |
Eugênio Bucci
Em 1989, aos 26 anos, o cineasta Steven Soderbergh ficou famoso com
Sexo, mentiras e videotape. Duas décadas depois, lançou Che, um épico dividido
em duas partes, ou dois filmes em sequência: no primeiro, Che Guevara vira
guerrilheiro em Cuba; no segundo, ele vai para a Bolívia instalar um foco
revolucionário. No primeiro, Che sai consagrado, aos 30 anos. Do segundo, saiu
morto, carregado por um helicóptero.
A cena final do primeiro filme é inesquecível. Pode ser vista como um
trailer do pesadelo ético que a esquerda viveria na América Latina a partir de
então. O protagonista Che Guevara (Benicio del Toro) vai pela estrada, dentro
de um jipe sem capota, na direção de Havana. É janeiro de 1959. O ditador
Fulgencio Batista fugiu. Fidel Castro venceu. De repente, passa pelo jipe um
vistoso conversível, dirigido por um dos comandados de Che. No automóvel, moços
e moças festejam, cabelos ao vento. Che ordena que parem. “Que carro é este?”,
pergunta ao motorista. “Era de um francoatirador”, diz ele. O comandante se
enfurece. Manda que seu subordinado volte, devolva o carro e só depois vá para
Havana, a pé, se for preciso.
A mensagem do líder era simples e direta: a revolução não era um
movimento de ladrões.
Na biografia que John Lee Anderson escreveu sobre Guevara, há uma
passagem parecida. De novo, estamos às voltas com automóveis. Agora, Che é
ministro das Indústrias, no regime comunista de Havana. Certo dia, seu
vice-ministro, Orlando Borrego, aparece na repartição com um Jaguar esporte,
novinho, que encontrara numa fábrica. O chefe o interpela aos palavrões e o
obriga a devolver o carro. Borrego passaria os 12 anos seguintes dirigindo um
Chevy mais simples, sem opcionais. Outra vez, a mesma mensagem: a revolução não
admite ladrões.
Acontece que a História (com “H” maiúsculo, como alguns preferem) não é
heroica. Ela é uma piadista. Quando morreu pelas armas dos militares
bolivianos, Che estava magro e doente. E os ladrões proliferaram nas fileiras
de esquerda. Rechonchudos e felizes. Não roubaram apenas automóveis, mas
utopias. Transformaram sonhos dos camaradas em butim. Estão por aí, de terno,
gravata e dinheiro vivo dentro de casa. Nisso se resume o grande dilema
existencial e político das organizações de esquerda.
Ao se acovardar diante da corrupção ou, pior, ao julgar que podem se
extrair vantagens táticas da corrupção, um partido de esquerda abdica de
acreditar na igualdade de oportunidades. Logo, abdica de sua herança simbólica
e de nomes como Che Guevara. É bem verdade que Che se tornou um homem
embrutecido, violento, comandando execuções às centenas, sem processo justo. O
lendário guerrilheiro foi, a seu modo, um misto de verdade e de loucura (“tanta
violência, mas tanta ternura”). Fez sua guerra, sujou as mãos de sangue e topou
pagar o preço de sua escolha. O que importa, agora, é que ladrão ele não foi. E
isso importa porque não foi a selvageria da batalha que corrompeu a esquerda:
foi o roubo.
Passemos ao Brasil de 2011. Passemos para hoje. Estamos aí atordoados
com mais um escândalo, outra vez embaralhando ONGs, mas agora com militantes e
ex-militantes do PCdoB e autoridades do Ministério dos Esportes. Passarão
meses, talvez anos, até que saibamos quem de fato tem culpa no cartório, se é
que o tabelião e os cartorários não estavam no esquema. Desde já, porém,
sabemos que há milhões e milhões de reais em irregularidades, tudo em nome de
dar assistência a crianças carentes que não recebiam assistência nenhuma.
A corrupção virou a pior forma de barbárie de nossa democracia não
apenas porque mercadeja com o destino de crianças ou porque sacrifica vidas em
hospitais imundos e estradas abandonadas, mas principalmente por ter
transformado a política numa indústria complexa, cuja finalidade é a
apropriação da riqueza de todos para fins privados (e fins partidários são fins
privados). Na esquerda, a corrupção se qualifica: emprega métodos bolcheviques
e se justifica sob licenças ideológicas que enaltecem o crime comum como se ele
fosse a própria trilha de libertação dos oprimidos. É uma corrupção delirante,
que se julga uma nova modalidade de guerrilha contra o capital, mas que, no
fundo, presta serviços ao que há de pior no capital.
Comunistas e socialistas, quando corruptos, roubam enfim a razão pela
qual morreram todos os guerrilheiros. Traindo seus mortos, traindo os
desaparecidos, o corrupto de esquerda se sente vitorioso. Acha que pode passear
de conversível sem ser incomodado.
Eugênio Bucci é jornalista (artigo publicado na revista Época em 24/10/2011)
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