segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Rampa


Do alto desta encosta em que cederam
a fibra dos meus olhos, o meu claro
silêncio vertebrado de palavras
sólidas e também a minha infância;

em que, sobre joelhos eucarísticos,
testemunhei o fluxo da mentira
enquanto o vinho azul me entorpecia
aos poucos com o medo de perdê-lo,

não me despeço. Parto. Vou embora.
Ao cesto de papel deixo a gravata
descolorida pelo sol de cal.

Porões ainda existe – e governam,
mas hoje estendem notas de dinheiro
em vez de músculos no pau-de-arara.

(Poema de Eugênio Bucci, publicado na Folha de S. Paulo em 21 de agosto de 2011)

Nenhum comentário:

Postar um comentário